Entenda como a visão sistêmica pode melhorar o funcionamento das relações dentro e fora das empresas

 

Por trás de toda relação humana, existe um sistema ditando a dinâmica. Ou, em outras palavras, um conjunto de elementos reunidos que interagem entre si, influenciam-se e estão em constante mudança. Complicado? Tanto quanto podem ser as interações sociais que fazem parte do cotidiano de todos nós. O objetivo do trabalho de constelação sistêmica organizacional é justamente descomplicar e esclarecer as dinâmicas nem sempre explícitas que regem os contatos – e contratos – sociais.

Os sistemas também estão presentes na estrutura de organizações como governos, empresas, famílias, clubes e autarquias. Isso porque grupos de qualquer natureza estabelecem um modus operandi que atua em mão dupla: os indivíduos impactam o todo com seu comportamento, e o todo influencia cada integrante. Aqui, abordarei dois sistemas em especial, referentes aos ambientes familiar e organizacional.

Pela visão tradicional, uma família é formada por indivíduos independentes reunidos pelo laço sanguíneo. Já pela perspectiva da constelação sistêmica, a família é caracterizada pela maneira como interagem os membros do grupo. Por este ponto de vista, o mais importante é entender como se dão as interações entre as pessoas – e não quem são as pessoas individualmente. Um sistema é constituído por diversas partes singulares, mas que, quando juntas, refletem propriedades que não tinham quando separadas. Por isso que, segundo o conhecimento da constelação, ainda que fossem trocados os integrantes da família, a tendência seria que o sistema estabelecido se mantivesse, apenas com novos personagens, como acontece em outros grupos sociais.

A família se destaca de outras sociedades porque é o primeiro sistema do qual todos nós faremos parte ao nascer. É, portanto, o responsável pela base das relações que virão a seguir na vida. É nesse ambiente que se dá o contato inicial com as tradições e a cultura –  o que, de alguma forma, influenciará a formação dos valores essenciais de cada pessoa. Diferentemente de outros sistemas, pertencer à família é incondicional, automático e eterno. Sim, porque mesmo depois de morrer cada membro continuará a ter seu lugar marcado naquele grupo.

 

No comando dos sistemas

No ambiente organizacional, o pertencimento é condicional à contribuição de cada um. Tanto a pessoa quanto a empresa precisam alimentar o vínculo para que ele se estabeleça e seja mantido. Ainda assim, trata-se de uma conexão temporária, que termina no momento em que o contrato profissional for rompido.

Outra diferença entre os sistemas familiar e organizacional está na maneira como as ações de dar e receber se equilibram (ou não). No âmbito familiar, há um natural desequilíbrio: os pais dão muito mais para os filhos, que pouco devolvem enquanto estão no período de formação, já que as crianças precisam de auxílio para se desenvolver. Já no sistema organizacional, espera-se um equilíbrio entre o que se oferece e o que se recebe em contrapartida. O quanto um funcionário trabalha, contribui e demonstra competência deve estar à altura do que a organização retribui em forma de salário, benefícios e reconhecimento.

O princípio da ordem é mais complexo ainda do que nas famílias, onde “simplesmente” deve-se obedecer à ordem do mais antigo, ou de quem chegou primeiro. Nas organizações, a ordem deve contemplar a antiguidade, mas também a ordem de importância ou responsabilidade do cargo e a de importância estratégica da área para a sobrevivência do negócio.

Quando os princípios sistêmicos são considerados e seguidos pelos integrantes do grupo, a organização tende a funcionar de maneira mais harmoniosa, suave e confortável – assim como acontece na família. Esses princípios, porém, não são regras claras, rígidas nem simples. São apenas pistas que indicam como naturalmente um sistema pode operar melhor. Mesmo que essas indicações não sejam seguidas, o sistema funcionará, mas tende a apresentar ruídos e lacunas de comunicação, impedindo que se realize todo o potencial do grupo. Como uma engrenagem que atua fora de sincronia.

Com a aplicação da constelação sistêmica é possível identificar e analisar as dinâmicas em uma família ou empresa. O trabalho deixa claro que a soma dos padrões de comportamento que se revelam na interação entre as pessoas e os diversos elementos (como missão, propósito, mercado, clientes, meio ambiente etc.) determina os resultados atingidos pelo sistema. Agendas ocultas, dificuldades de relacionamento, ressentimentos e outras questões que passam despercebidas no dia a dia ficam claras, assim como o impacto que podem causar ao desempenho do grupo.

Em uma empresa, essas revelações podem ser a chave​ para um funcionamento​ mais harmonioso e a consequente​ geração dos resultados esperados.