Meu papel como coach não é reinventar meus clientes, mas sim ser um apoio para que eles se adaptem a um novo momento no emprego ou na vida
O coach é visto por muita gente como um intermediário que pode “consertar” as pessoas. Na verdade, seu trabalho é uma ferramenta de desenvolvimento para apoiar a transição de um momento A para um momento B. Por exemplo, um gerente regional que é promovido a gerente nacional. Os comportamentos exigidos do profissional em seu novo cargo são diferentes daqueles com os quais ele ou ela estava acostumado. Nessa situação, é preciso reconhecer quais são essas novas habilidades, priorizá-las e traçar um caminho para desenvolvê-las.
O objetivo, porém, não é jogar fora e substituir as características já desenvolvidas pelo profissional. Foram elas que o levaram até o seu novo desafio e que, consequentemente, servirão de base para desenvolver o que ele precisará dali em diante. Gosto de comparar o coach com a compra de uma roupa nova. Se a pessoa vai esquiar nas férias, precisa de um casaco para neve. Ela usará esse casaco enquanto lhe for útil ou couber em seu corpo. Mas o casaco, assim como novas habilidades, é só uma peça extra. O corpo que ela usará para vestir é o mesmo de antes.
O meu papel é ajudar a pessoa a entender o seu momento presente: onde você está? Por que está aqui? O que quer do futuro? Quais são os seus valores? Depois, partimos para descobrir o que falta para lidar com o novo contexto. Nas primeiras sessões, o coachee identifica suas prioridades de desenvolvimento. O coach dá suporte a esse processo, contribuindo para a reflexão do cliente, mas não pode impor suas opiniões. Tem que ajudar eles a pensarem de acordo com a própria disponibilidade, expectativas e repertório, sem entregar respostas prontas. As conclusões e escolhas precisam ser de quem está vivenciando o desafio. Se a pessoa diz que precisa de tempo, está decidido: é tempo o tema que vamos trabalhar primeiro.
No escritório é comum ouvir lamentações como “mas eu não sei fazer isso!”. Aos poucos, durante as sessões, o coachee percebe que as novas habilidades não lhe são tão estranhas assim. Ele já as expressou em situações na faculdade, em momentos pontuais no trabalho ou até mesmo durante a prática de hobbies, como um jogo de basquete, quando, por exemplo, era capitão do time e soube, com espírito de liderança, guiá-los para a vitória.
Após priorizar suas etapas de desenvolvimento, realizamos exercícios práticos, começando pelo simples. Se a necessidade é melhorar as relações e interações no trabalho, não peço, logo na primeira semana, que a pessoa converse com o chefe. Sugiro conversar com colegas da academia ou com o porteiro do prédio, contextos em que o impacto do desafio tende a ser menor. Eu, particularmente, não gosto muito do “filosofês” – ou seja, de prolongar discussões teóricas sobre questões que só fazem sentido quando vividas. O cliente precisa aprender e sofrer com a prática, para chegar à sessão seguinte com temas para discussão, dificuldades, dúvidas baseadas em sua experiência.
Os exercícios dão a cada um a sensação de “eu posso fazer sozinho”, ainda que com alguns tropeços. A construção da autonomia é um pilar do meu trabalho e, por isso, não costumo prolongar os processos de coaching por muito tempo. Cada caso é um caso, mas costumo fazer um plano de, no máximo, seis meses de atendimento.
Se você está na dúvida se precisa ou não de um coach, minha dica é a seguinte: é fundamental que você esteja com vontade de se desenvolver, de adquirir novas habilidades, ou de se entender melhor. Ninguém deve passar por um processo de coaching seguindo a moda, uma exigência de terceiros (ainda que sejam seus chefes) ou simplesmente para aproveitar um benefício da empresa. Já tive muitos clientes que me procuraram após “ganhar” um coaching. Não me surpreendi quando desistiram no meio do caminho. É preciso haver demanda interna por mudança e disponibilidade para a reflexão.
Para quem está convencido da necessidade do coaching, vale dizer que existem coaches profissionais e coaches de vida (conhecidos como life coaching). Estes últimos podem ajudar em um momento de transição que nada tenha a ver com o ambiente de trabalho, como uma separação de casal. A diferença do coaching para a terapia é principalmente o tempo de duração, o escopo do trabalho. O coaching tem um prazo para acabar e lida com uma situação específica, enquanto a terapia pode se estender por anos sem limitações e alterna a atenção às diferentes demandas que surgem na vida do cliente.
As questões que mais batem à porta do meu escritório em busca de coaching são “meu chefe não me apoia” (essa é campeã!), “não sei por que estou fazendo o que faço” (há muita falta de sentido na vida profissional) e “não consigo equilibrar trabalho e vida pessoal”. Além, é claro, de pessoas que estão vivendo momentos de transição. Em cada demanda e com cada cliente, emerge uma discussão diferente. Não existe receita pronta e é isso que torna meu trabalho como gentólogo tão fascinante.
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