Como o autoconhecimento pode servir de ferramenta para se recolocar no mercado
Muitas vezes sou procurado por profissionais em fase de recolocação para um processo de coaching e me entusiasma muito ver profissionais neste momento de crise, sabendo fazer da crise, uma oportunidade de repensar e reavaliar tudo e sair dela melhor.
Você está feliz? Já parou um tempinho para analisar e revisar a sua vida? Na correria da rotina, muitas vezes, não temos tempo para nos observar. Há momentos, porém, em que voltar os olhos para nós mesmos faz a diferença. Por exemplo, em tempos de crise – como a que vivemos na economia e política do país e que tem levado milhares de brasileiros ao desemprego. A agenda de muita gente, de repente, esvaziou. Mas ficar parado não dá. Se, além de procurar novos empregos, as pessoas aproveitassem o momento de transição para refletir sobre quem elas realmente são e o que querem de fato em suas vidas, poderiam sair fortalecidas deste período tão difícil.
Na semana passada ministrei um workshop na TopMind, empresa especializada em tecnologia da informação, telecom e RH estratégico. Esse curso fez parte do Top+Próximo, evento que acontece toda terça-feira e tem como objetivo auxiliar profissionais, que perderam seus empregos, a terem novas oportunidades de formação e incentivos na busca por uma recolocação no mercado. O projeto já completou um ano e é sustentado pelo seguinte tripé: 1) capacitação, pois visa preparar o profissional para voltar ao trabalho; 2) networking (os participantes constroem e mantêm uma rede de contatos); e 3) oportunidade: a TopMind ajuda os participantes a encontrarem emprego compartilhando vagas em grupos com as pessoas que foram aos workshops.
Na ocasião, falei sobre autoconhecimento, um tema que considero fundamental para uma vida bem-sucedida, mas ao qual, em geral, se presta . Por considerar um assunto tão importante, já o discuti de diversas formas em artigos anteriores. Mas sempre vale a pena retomar – ainda mais sob diferentes perspectivas.
Como o público era formado por profissionais que estão fora do mercado de trabalho em função da crise, foquei na relevância de se aproveitar esse momento para fazer uma revisão na vida, profissional e pessoal. A minha intenção era fazer com que os presentes refletissem sobre sua postura. Eles se colocam no papel de vítimas, carregadas pela maré da vida? Ou se posicionam como agentes ativos da própria caminhada, com o controle das ações e emoções em suas mãos? Questionei se sentiam-se felizes. Se não, o que os deixava infelizes e o que estavam fazendo para melhorar sua situação? Para mim, o ponto crucial estava em despertar a reflexão sobre as próprias escolhas de tempos em tempos. Nada justifica que nos esqueçamos de nós mesmos.
Os frutos de um mergulho interno
Por meio do autoconhecimento e, logo, do autodesenvolvimento, a pessoa tende a criar mais autonomia. Assim, pode se sentir mais preparada para voltar ao mercado de trabalho. Identificar a importância de se autoconhecer é o primeiro passo para se tornar um profissional mais competente – e consciente. Afinal, como é possível gerenciar algo ou alguém externo se não gerenciar você mesmo? Como entender as motivações alheias sem entender o próprio funcionamento?
Em momentos desafiadores, como quando se perde um emprego, a resiliência é colocada à prova. Fora do jogo e da zona de conforto, somos obrigados a olhar para nós mesmos sem distrações de compromissos ou status. Nesse contexto, o processo de autoconhecimento pode ser ainda mais doloroso e difícil.
Mergulhar em si mesmo, no entanto, não significa procurar erros, falhas e tentar se livrar deles. Trata-se de encarar, sim, erros e falhas, mas com disponibilidade para reconhecê-los, compreender as próprias limitações e, a partir dessa noção clara de si, traçar um caminho a seguir. É como pensar: “Bom, eu sou assim. E agora? O que posso fazer com isso?”. Não se trata de certo nem errado, apenas de jeitos de ser. Com esse olhar, com o tempo, a tendência é que a vida fique mais leve e mais funcional.
Segundo William Shakespeare, “de todos os conhecimentos possíveis, o mais sábio e útil é o conhecer a si mesmo”. Eu concordo com o dramaturgo inglês, pois não adianta o profissional saber tudo sobre a área em que trabalha, e não se conhecer. Como esse profissional pode ser feliz, realizado e se sentir bem se ele não sabe o que o move intimamente, se não conhece e não trabalha as próprias limitações?
Ao ser demitida, a pessoa recebe um convite silencioso: aprender com os seus mecanismos e registros internos. Como as vivências, experiências e conhecimentos que acumulou vão à tona em um momento difícil? Como usar esses recursos para lidar com a nova realidade? O que fazer dali para a frente?
É possível enfrentar a situação com os olhos abertos, com disposição para aprender, crescer e amadurecer. Com isso, pode-se sair fortalecido desse período da vida, talvez até mais rápido do que se ficasse procurando culpados pelo ocorrido ou um novo emprego, sem fazer uma pausa para olhar para dentro.
Se você está nessa difícil fase, sem emprego e na busca por um, não se desespere. Pare. Respire. Observe-se e conheça-se um pouco mais. Assim, você estará mais completo e lapidado para voltar com tudo para o mercado.
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