Comentário sobre a energia da raiva, baseado no livro “ O caminho da sabedoria de Christophe André( psiquiatra ), Alexandre Jollien ( filósofo) e Matthieu Ricard(monge budista), pag 157, onde os três conversam sobre “As origens do sofrimento”.
Alexandre comenta: “Um dia, com crise de otite, meu filho gritava tão alto que eu não sabia mais o que fazer. Impotente, fiquei surpreso ao identificar na minha irritação rastros de raiva contra ele. Eu havia trocado de alvo! É incrível como o sofrimento pode fazer com que percamos o controle.
Meu amor por essa criança era tão grande que, desesperado, em pânico diante dos gritos que eu não sabia aliviar, acabei caindo neste reflexo estúpido “Pare de gritar, isso me magoa demais!”. Singular paradoxo: em vez de ficar completamente desarmado, de abraçar meu filho para consolá-lo com todo o meu coração, eu o criticava inconscientemente por me causar dor. Portanto, preciso fazer o possível para desarmar esses medos, esse mecanismo de defesa. Identificar as causas do sofrimento e deixar de prejudicar são atos eminentemente altruístas”
Quis usar este pequeno trecho do capítulo do livro, pois é um exemplo bem comum que acontece conosco, mas, normalmente, temos pouca noção das emoções que estamos sentidos, nem sabemos nomeá-las e, muitas vezes censuramos o nosso próprio sentir, afinal, como assumir para mim mesmo que estou com raiva do meu filho que urra de dor?
Queria começar com a afirmação que as emoções/sentimentos, sempre são corretos, não devemos ter culpa e negá-los.
A questão é entender porque um pai tão esclarecido está com raiva DO FILHO.
Na verdade, ele percebe que a raiva não é do filho e sim da situação:
- De extrema dor pela dor do filho.
- De total impotência para resolver a questão.
- E de uma regra interna que ele mesmo não percebe: ” Meu filho não podia, não devia estar sentindo esta dor”
Ou seja, nesta terceira situação se vê claramente uma frustração, um expectativa interna não atendida, como de um motorista extremamente cuidadoso ao dirigir mas quando se depara e sofre com motorista descuidados e egoístas, se enraivece e ataca, agride, xinga porque tem uma crença:” Se eu sou cuidadoso ao dirigir, todos TEM que ser também”
Voltando a emoção que eu chamei de correta, da dor/tristeza de ver o filho em sofrimento e estar impotente, ela produz uma energia física intensa, com adrenalina etc. igual aos homens da caverna quando se viam atacados ou à sua prole.
O organismo dispara uma série de substância para dar mais força, rapidez, acuidade visual, etc para enfrentar o desafio, só que neste caso, não há dinossauro, há impotência e na falta de um dinossauro quem está em volta de nós(nossos familiares, amigos, colegas de trabalho) recebem esta raiva sem terem nada a ver com isso.
O que fazer então quando me sentir frustrado por algo que eu espero, exijo internamente e sobe a raiva.
Se conscientizar que estamos com raiva, não criticar, não se julgar, não se negar.
Se conscientizar de que não dominamos o outro nem o aleatório, as coisas acontecem apesar dos nossos desejos, fantasias, exigências.
Respirar profundamente pelo menos 4 vezes numa fórmula 4x2x4x2:
(inspiro calmamente em quatro tempos, seguro o ar em dois tempos, solto o ar lentamente em quatro tempos e fico sem ar nos pulmões por dois tempos.
Isso dará um aviso ao local do cérebro que processa medo, que, está tudo tranquilo, e, além disso nos dará tempo para perceber de onde vem a raiva.
Espero ter ajudado!
Gostei muito, peço permissão para divulgar entre os amigos.
Daimar, sempre sinta-se a vontade para copiar,se apropriar. Conhecimento não pode ter dono!