Você é um perfeccionista? Saiba quando exigência demais atrapalha
Você não faz nada que seja menos do que ótimo? Evita ser levado por impulsos? Só se arrisca se souber que sua performance será excelente? Na escola a nota 9,5 era decepcionante? Se as atividades nas quais você se envolve só fazem sentido quando o resultado é 100% e se algo “mais ou menos” não lhe serve, eis o diagnóstico: você é um perfeccionista.
O problema de mirar o perfeito é ficar paralisado. Ao estabelecer um nível tão alto para o desempenho, limitamos nossos horizontes. Ao acreditarmos que não conseguimos fazer algo excepcional, deixamos de agarrar muitas oportunidades e iniciativas que poderiam ter sido bem-sucedidas. Sequer tentamos temendo o resultado.
Se você se identifica com esse padrão, talvez não se lembre de quando começou a buscar a perfeição em tudo. A raiz desse distúrbio pode vir, como em muitos casos, do ambiente familiar, ainda que seja de forma sutil e não verbalizada. Por exemplo, se algum parente próximo for perfeccionista e a pessoa cresce assistindo-o batalhar, frustrar-se e fazer de tudo para alcançar o “mais que perfeito”, pronto. Aí está um modelo no qual pode se espelhar para cultivar essa prática mesmo que de forma inconsciente.
Mas não é só por espelhamento que o perfeccionismo aparece. Há situações em que a busca pela perfeição é um modo de sobrevivência que se cria para resistir ao ambiente. Na infância, por exemplo, a pessoa pode sentir que não é o filho preferido. Pode acreditar ser burro, feio ou chato. De novo: não significa que alguém disse isso para ela. A criança interpretou alguns sinais chegando a essa conclusão. Mas, então, como fazer para ser o filho amado? Como compensar a suposta feiura ou burrice? Sendo perfeito em tudo que eu fizer, muitos concluem. Melhor aluno, melhor filho, melhor pessoa. Só assim ela acredita que terá destaque. E passa a correr atrás do impossível como um padrão de vida.
O lado sofrido do perfeccionismo
Para saber se alguém é perfeccionista, basta reparar se a pessoa costuma estar insatisfeita ou com dúvidas sobre a qualidade do que faz. Pode ser no trabalho, em relacionamentos ou em qualquer outra área de sua vida. Outro sintoma que aparece em alguns perfeccionistas é a frustração. O desejo de ter feito mais no dia, na semana, no ano, na vida – não concretizado por falta de segurança e pela necessidade de acertar em cheio sempre. Quando agimos assim, é comum deixarmos as possibilidades boas escaparem enquanto esperamos as ótimas possibilidades. Daí o ditado que o ótimo é inimigo do bom.
Há pessoas que, além de buscar perfeição em si mesmas, esperam o mesmo dos outros, tornando-se muito crítica. Há sempre algo que falta ou que sobra. A questão é que ninguém é perfeito e relacionamentos só são construídos quando aceitamos essa verdade. Exigir demais pode nos deixar sozinhos.
Você também pode usá-lo a seu favor
Claro que o perfeccionismo também tem seu lado positivo. Pessoas com essa tendência tendem a ir na contramão dos impulsos, avaliar com cautela as possibilidades antes de agir e estudar os casos mais do que outros. Além disso, a busca da perfeição pode motivar um treino e uma dedicação acima da média, o que de fato pode levar a um resultado acima da média.
Como saber se o perfeccionista dentro de você está atrapalhando ou ajudando? Pergunte-se: esse traço causa prejuízo ou sofrimento pessoal? Causa prejuízo ou sofrimento social? O que você perde por tentar ser perfeito? Buscando essas respostas a pessoa tende a ganhar consciência dos prejuízos e dos benefícios de ser perfeccionista. Poderá colocar na balança os prós e contras para entender quanto o lado positivo é maior que o negativo (ou vice-versa).
Para aquele perfeccionista que se sente bem e gosta de ser assim, só tenho uma dica: seja feliz! Para aquele que o lado negativo pesou mais na balança, saiba que é possível controlar toda essa necessidade de perfeição.
Diminuindo a exigência
O primeiro passo é investigar a origem dessa característica. Por que criou esse padrão de comportamento? Em paralelo, observe que outras pessoas são felizes mesmo sem executar suas atividades com perfeição. Essa visão cria uma oportunidade para o desenvolvimento de outros padrões, diminuindo intencionalmente seu grau de exigência. O segundo passo é entender que tentar fazer o melhor não é um problema. O problema é não se contentar com nada além da perfeição. Busque, diariamente, dar o seu melhor e contentar-se com o resultado que você conseguiu, não se frustrando quando ele não for o melhor de todos. A verdade é que ele nunca será.
Para o perfeccionista recuperar uma falha que acredita ter – como ser feio, burro ou o menos querido – é preciso, antes de tudo, perceber que isso é uma fantasia criada por ele. Todos nós temos imperfeições, mas elas não nos transformam em rótulos. Sugiro um exercício: faça algo imperfeito de propósito e preste atenção à reação alheia. Pergunte-se: “Se eu deixar de ser perfeito amanhã, meu chefe vai me demitir? A minha esposa vai me largar? Meus filhos vão me negar?” Ao racionalizar o que se sente, a tendência é tirar o peso emocional da situação e ver que não há tragédia na situação. Nenhuma catástrofe vai acontecer ao se abandonar a perfeição. Corre-se o risco até de acontecer o contrário: a vida melhorar.
Comentários